segunda-feira, 23 de março de 2009

toque de Midas.

Não é por ser assim que o mundo tem que parar. Não é por doer em mim que alguém tem que chorar. Não é por um céu azul brilhar que minha doce história assim, tem que acabar. Mais do que felicidade plena o que busco é o inaudível som. A claridade cor que me aperta, que me enxerga, que faz qualquer momento perdurar. Por entre molduras hi-tech e retrôs. Por entres laços, desacatos. Por entre sonhos de vanguarda, pulmões arrancados, dedos cortados espalhados pelo mundo...

Pedaços de mim. O que chamo de tempo é tempestade. É chuva de amor no fim.




Lorena A.

terça-feira, 10 de março de 2009

I belive in angels.



Sobretudo quando aquilo se torna possível
é uma magia muito clara
àquela que me corre às veias
à vontade superior.

O saber do que se passa dentro de si mesmo é
ao mesmo tempo saudade
e ao mesmo tempo... a vastidão do nada.
Do não querer nada em troca
A não ser a vontade contínua de ser o mesmo,
a mesma transição de sempre.

Por isso quando vejo o chamado
a suave voz da segurança;
quando ela até mim vêm
e eu danço...
Sinto me viva!
Sinto viva em mim a esperança
Que por vezes culmina
e se despedaça.
Mas arde como fogo em brasa
deixando mais evidente
deixando mais contudente
a necessidade de seguir
na imensidão.









Lorena A.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Primavera-Verão.



E calo-me entre as rosas desvanecidas
Porque delas é o silêncio dos amantes,
Das almas esquecidas
E da tristeza eloqüente.
Inerte.

Fecho-me no transe
Transparecente
Assim feito o rio que não deságua no mar,
Não mais.
Nada a derramar.

O horizonte é distante!
Demais é talvez sem pensar.
Desnutrindo outros lados
Abortando aqueles sins...
Desfazendo aqueles nãos...

Enfim!

Bonito é o dia
E eu não sei nada ao certo.
Voam em mim pensamentos
Como brisas terrenas, marítimas...

Ama[r]ítimica.

Não vale morrer em verso
Inconsequentemente.

Refugio-me no banho
Em cores, no branco
No bálsamo
No brotar do meu jardim.

Se de todas as estações
Delas saí ileso,
O que esperar senão a ti?










Lorena A.

terça-feira, 3 de março de 2009

La dernière robe.

Abriu o armário. Assim o desejava, e o tinha: organizado, com cada peça que falava um pouco sobre ela e, automaticamente, sobre alguns momentos de sua vida. Tudo tão inóspito que lhe inspirava o amor. A certeza de sentimentos bem vividos, tudo com a leveza da arte, das cores... Dos sentimentos.Tudo começara como uma mera brincadeira. Quisera fazer desse ritual cotidianístico – o ato universal de vestir-se - um conto sobressalente. Algo que induzisse a idealismos e deixasse seu lado lúdico transparecer. Brincara com o uso dos vestidos, permitindo que cada um deles doasse junto com seu corpo, um pouco de sua alma.Na primeira tentativa, o vestido foi o longo, presente, imponente. Mesmo achando-se pequena demais pra usar algo tão lânguido, ofereceu seu corpo e ganhou elogios, com tonalidade e voz daquele que sempre esperara.Na vez seguinte, a beleza encurtara para perto dos joelhos, denunciando assim uma porção maior do que seriam suas coxas, marcadas por intensas nuances contrastando e realçando a cor da sua pele.A ambigüidade tomara conta da terceira vestimenta, tomando de conta também dos corpos que "dela" aproximavam-lhe (ou adentravam-lhe)... Fazendo tudo isso parecer um termômetro daquilo que se passava na realidade. E de fato seria um termômetro. E havia de subir às alturas. Porém, a cada novo encontro, a cada nova pessoa, já pressentia certo desprezo - ou seria desespero? - pela situação que estava prestes a viver, mas consentia sua atenção, sua ação e tudo que poderia vir de si mesma.Durante todo o processo, entregava-se como se nunca houvesse despossuído alguém. Como se fizesse solta, dentro da mais profunda e verdadeira liberdade. Uma dispersãozinha às vezes como num sonho, mas nada que a não fizesse voltar à realidade. Muito belo. O que julgava agora era que havia um ciclo a se fechar, e querendo mais (ou não), esperava ansiosamente transformar-se em mártir ou julgadora de suas próprias ações. Despretensiosamente aguardando pelo final. Sendo ele qual fosse.Se havia sexo ou não, pouco a importava. O que valia era o fechar das cortinas a ao final de tudo: a sensação de que cada um dos encontros possuía o desfecho como o de um verdadeiro espetáculo, sentindo e ouvindo aplausos, massagens em seu vasto ego. Depois de alguns encontros e diversos vestidos, sentia-se novamente entediada. Mas não saberia explicar se era por conta do figurino, sempre o mesmo; e que no final era o que menos importava, ou simplesmente porque se achava indigna de corromper-se com a rotina e queria derrotá-la, fazendo isso obra do seu dia-a-dia. E, ao mesmo tempo, tornando-se o verdadeiro supra-sumo da contradição. Depois de tomada a coragem, resolvera que a cor do grand finale seria o negro. Não utilizado anteriormente, pois o havia guardado para o provável e iminente fim. Cor indiferente e impostora. Hostil e acolhedora. Era perfeita para ocasião. O modelo, de acordo com as suas emoções. Nem muito curto, nem muito sufocado. Transmitiam sensação de conforto e sensualidade. Exatamente como se passava no turbilhão de dentro. Por fim, o demais das horas...



Lorena A.

scraps.


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