quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Acento español.

Muita luz entrava pela janela escancarada junto com o vento, obrigando as cortinas a sacudirem e o cabelo dela a balançar numa dança permanente, quase fazendo-a perder a paciência. Meio bobo talvez, diante daquele momento todo de atmosfera desenhada, que se fazia por realidade. Deixando por entre as cobertas da mente, uma terrível ameaça: tudo haveria por se concretizar e o sonho não sairia dali imune.
Sabia que o desfecho era esse, pois tudo que se faz nessa encenação presente, diz respeito à tudo aquilo considerava seu.

Tímpanos sensíveis atentaram para o som que iniciara a ecoar pelo cômodo, cheio de sotaque espanhol, fazendo seu corpo e ancas corresponderem imediatamente à batida do ritmo. Música era o que ela era agora.

Meio bucólico aquele sorriso que lhe era entregue. Agradava-lhe porém a sua existência, pois era um sinal contundente do seu desejo sendo saciado.

Vestido vermelho e timidez ausente. Os cabelos ainda um pouco úmidos, revelavam o banho recente. Junto com o esmalte cálido e silencioso das unhas, pude constatar de que se tratava realmente de uma mulher verdadeiramente feminina, como uma lua concebida em ciclos, forte ao ter o poder de engravidar de si mesma, e despejar no mundo toda sua beleza e exuberância.

A roupa não era muita. Não haveria muito esforço então em tirá-la, considerando a minha ânsia e ímpeto, devidamente desejados anteriormente. Sendo assim, a facilidade de livrar-se de qualquer vestimenta rápido o suficiente era mais que considerável. Deveria cair de uma vez por todas e por fim, o fim ser consumido de forma rápida, intensa e extremamente prazerosa.

O vinho barato que entorpeciam os corpos daquela noite fora presente meu. As taças, já compradas a muito tempo atrás, simplesmente não enfeitavam mais as prateleiras daquela cozinha sem graça, hoje tiveram uma função especial. Tão especial que simplificavam tudo e eu percebi que elas realmente esperaram por tudo isso, esperaram por um não-triste-fim.



Lorena A.



O ladrão

deixou-a para trás -

A lua na janela.


Ryokan

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A fragilidade das coisas encaro com o silêncio. É feito a tristeza que não tem fim, irmã da felicidade finita, que dói choro, que dói pranto. Mas fazendo parte do todo da vida. E depois que tudo isso acontece, a mudança prevalece, sendo esperada ou não. Tudo se torna meio vago. Pesarosamente vago. Racionalismo nenhum é capaz de preencher esse "vago". Só o sentimento aqui entende.
A gente acostuma, pois a vida continua. Mas os brilhos continuam lá, junto com os sorrisos, esperando por uma única última chance de se fazerem percebidos. Outra vez.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008


ela pega a bolsa, ajeita a blusa e vai
vai correndo pela rua feito um trem
sem olhar para nada nem ninguém
sem freio vai entrando o atrito do ar
ela só pensa em alcançar aqueles braços
percorrer com a língua todos os seus traços
vai correndo porque quer penetrar em outra pele
falecer num gozo que a revele.



paula taitelbaum.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Disturbia.

E tanta intermintência me cansou. Me causou um inferno. O inferno astral que já passou e tudo aquilo que eu havia dito que ia fazer eu realmente fiz, mas alguma coisa me fez mal. Mal consegui digerir e ainda estou tentando. É tipo quando o tango toca e eu fico sem palavras. Apenas ouvindo. Sugerindo rumores preludiosos de uma vontade latente. Assim simplesmente. Sem meio termos ou coisas pela metade. Tão lúdico não? Tão lúcido então se faz na realidade. Embora sendo na verdade uma coisa de outrora, um absurdo não superado. Uma vontade de ser cubana, fumar charuto e andar pela praia. Vontade de fazer amor na praia. No chão de areia da exuberância. Na insistência do deixar-me ser carnal por alguns instantes. Sendo manipulada pela lua, pela rua, cheia de possibilidades estranhas. De pessoas entranhas, encravadas na minha doce ambiguidade humana. Na minha essência profana. De onde ainda não consegui desvencilhar-me. Só isso.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

haikai.


Manto negro no céu
Foco de luz ilumina
Ciclo fechado.




Lorena A.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

E em cada momento de desejo, eu aborto, eu aborto, eu aborto. O cheiro do cabelo já não te pertence mais somente por tua mão ter percorrido aquela outra perna. Teu olhar naquele momento já me fazia medo, e eu, me fiz rocha, tentando desarmar a tua armadura e deixar intacta a minha.
A minha retina te acusou. Os olhos, orifícios da razão (ou de ilusão?) te fez em pedaços. Vi mosaicos por todo o teu existir. E o que somente restou agora foram esses raios fortes caídos do céu, que cozinha a minha moleira e me deixa assim: vulnerável.
Dei tchau. Mesmo sem querer partir. E o assim está no foi e o nós no era...

sábado, 4 de outubro de 2008



Numa dádiva presente anterior, os pensamentos ecoavam-me como fardos, as pressões eram psicológicas e o calor inválido. Pensei que sair do frio seria como sair da frieza, encontrar aconchego é realmente bom, mas a alma inquieta se retorce, e a ambiguidade é múltipla.
É tudo muito grado. É tudo muito grato. As ressonâncias são autênticas e eu sei exatamente porque elas acontecem. Fardo? Não mais. Me serve de mola. Impulsionando os sonhos trazidos de uma existência anterior, outra dimensão, sendo que estes são exatamente projetados no futuro, na vivência posterior, no que ainda está por vir, no que está sempre vindo a ser.
Incrivelmente aceito esse desapego e usufruo de tudo que me concedes. De tudo uma coerência absurda. Materialmente essencial e contínua. Oportuna. Valiosa. Como que em cada canto ela estivesse lá. E eu, dentro dela.



A vida é uma sucessão de convites diários, válidos somente pra hoje.

scraps.


Trimera Casa de Letras.

Blogueiros do Piauí.