Morri numa quinta-feira por volta da hora do almoço.
Senti o coração explodir em tantos pedaços, que era impossível juntá-los.
Não foi uma morte súbita e inesperada,
a agonia foi lenta, dolorosa, cansativa.
Tão cansativa que o coração explodiu.
Morri relativamente cedo, relativamente nova, relativamente…
Nessa mesma noite convidaram-me para beber um café e aceitei,
Mesmo tendo já morrido, mesmo tendo já partido.
E bebi o café e olhei em volta e a maioria das pessoas era como eu,
Ou, para ser precisa e exata, tinha-me tornado igual à maioria.
E dizia as palavras que diziam, e ria quando riam,
e fingia uma alegria ou uma tristeza que não sentia.
Fixei a data da minha morte porque tudo passou a ser presente.
O tempo dividiu-se em dois,
Passado e presente,
e esqueci como se conjuga o futuro.
Todos os acontecimentos passaram a ser irrelevantes, irrisórios, insignificantes.
O passado deixou de me assombrar, como até aí tinha acontecido,
e fiquei em paz.
E comecei a descansar.
Deixei de ter expectativas, objetivos, ilusões.
Aliás, todos os meus objetivos, até aí, foram ilusões,
Ilusões porque inalcançáveis, intangíveis, grandes demais.
Tinha caminhado com os olhos postos no céu,
e tropecei em todos os obstáculos possíveis,
e caí em todas as ratoeiras que a vida armadilhou.
E por isso morri relativamente cedo, relativamente nova, relativamente…
Hoje, nem levanto os olhos, nem sequer me levanto.
Passei só a descansar.
Deixei de ler, deixei de ouvir musica, deixei de ter curiosidade, deixei de procurar…
Deixei de me interessar,
como acontece com a maioria das pessoas que conheço, ou conheci.
É confortável e pacífico este estado vegetativo,
e definitivamente, nada cansativo.
Como convém e se espera de quem morreu,
Descanso em paz.
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