quarta-feira, 30 de abril de 2008

Almost a dance.

Tentei aquele passo,

Ensaiei entrar no ritmo,

As cores enfeitaram o transe.



...e eu transpirei uma felicidade absurda.



Deslizei meus trêmulos dedos pelo seu ombro nu.

O compasso era audível.



...e eu só me percebia em tu.



Tudo num momento

Tudo num enlace.

O que seria então, meu Deus,

De mim sem esse teu disfarce?



Catástrofe absoluta

Pequeno abalo sísmico em mim.



Um dia, enquanto o homem

A Mãe-Terra habitar,

Bons ventos o trarão de volta

A este aflito olhar.



Junto com a amplitude, um segredo

Que durante o tempo

Da minha boca nunca ousou saltar.



Mas, fácil assim como a Lua muda

Assim como a chuva perpetua

Disponho-me a pensar e descubro



Que na música entendo o dançar

E nesse peito onde ainda dorme esplêndido,

O meu amor há de te encontrar.










Lorena A.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Percus-sou[l].


O batuque...
O batuque...

O repique me sopra um conselho
de antemão:
'Deixa fluir o desejo neguinha,
Nesse teu coração'.

A batucada de ontem
Reflete no peito de hoje.
As andanças que no mundo percorrem
Chegam ao fim
Nesse teu olhar.

O corpo,
A malícia.
As coisas que ficam por dizer,
O som do agogô,
Na pêa do couro do tambor.
Na ginga do triângulo,
Me perco no teu amor.

Um percus-sou[l].
Uma matriz máxima do ritmo
A visão elaborada, desígno.
Da vontade total de ser dada
Consumida,
Pelo teu ressoar.

Então treme neguinha,
Desarma essa tua marra,
Traz os teus cachos e esse teu rebolado
Faz de conta que o mundo
Tá na ponta do tamborim...

Dançou,
Veio pra mim.
Então tudo fluiu
Numa mente sana
E corpore samba.



Lorena A.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Terrivelmente sempre Piauí.

A cada qual estrela matutina que brilha agora de longe, naquelas manhãs nada frescas onde somente podia sentir a brisa durante suas primeiras horas. E quando menos se espera, já se vê em estado de cansaço do sentir, por ter muita luz do Sol desta terra penetrando em suas retinas. E em ver que aquele rio vaporiza o calor humano que essa terra tem pra dar.
Todo dia é todo dia muito igual. Até quando as nuvens carregadas da previsão do tempo são insistentes e se desmancham como as meninas faceiras neste lugar, o calor é altivo e me deixa mole. Mole e com vontade de ir embora. Mole de vontade de correr por entre essas ruas, intercortando assim feito a Lua quando briga com o Sol. E olha que o Sol aqui, mais do que em qualquer outro lugar, é o rei.
Seu reino foi fortificado na caatinga e aos filhos que deste legado nasceram, restou uma propagação da dinastia paterna: o amar esse fervor tão reluzente, como nas tardes quase que insuportáveis de outubro.

E quando o peregrino desceu as vielas do centro da cidade-capital desde estado quase em chamas, viu de longe que aqui havia uma peculiaridade única, pois tendo percorrido diversamente outras entranhas no país tupiniquim, sabia que ali eram onde moravam poetas, revolucionários e sim, muitos sertanejos semi-árido.
E sim, eu amo o sem-árido.
A falta de chuva, a busca da gota de água para o florescer da exuberância caatinga me apavora e me encanta. Me deixa com falta de sono e muda. Me remete à busca da água salgada, litorânea menor desse país.
Quando ponho os meus pés andantes aqui, então, vivo uma atmosfera de prelúdios, como se eu houvesse a minha vida toda estado completamente e não intermintentemente, como já faço a alguns anos. É torto, rebuscado, mas ao mesmo tempo transmite uma leveza quase que doentia, que busca na rede estendidas nas varandas de parnaíba um refúgio, um luto sobre tudo que é angustiante, e me deixa só, sozinha com meus deleites aventuranos.
Imaginações me dão as asas pra pensar naqueles homens erectus cavernísticos que estiveram aqui provando da docência deste meu antro-lugar. Admito que diante das grandes maravilhas de suas riquezas esculpidas em pedras pela chuva não existente o ano todo, desenhadas por mãos australopitecas em paredes de pedras arcaicas, em castelos erguidos no meio de um nada histórico. Eu me sinto tão enraizada, com a sensação de ter-me achado, pisado numa atmosfera lunar.
O calor aqui não me deixa só, assim como essas pessoas não transeuntes, que querem fazer com que eu me esqueça quem sou. Não. Absolutamente não, aqui eu sou mais que eu. Eu sou todas.
Com meu eterno gosto de cajuína na boca e cheiro de carne de bode de brasa. Aqui os campos maiores já me viram e eu serei sempre a bela que à tarde ardente se rende, esperando uma noite nada vazia, preenchida por canções que revelam esse meu amor enturmescido.
Dentro do meu sotaque abobadado, redondinho, que quase eu não percebo; que até já tentei um disfarce nada convincente; carrego- te, óh terra querida filha do Sol do Equador, em qualquer que seja o meu enlaço com qualquer outra terra. Terrivelmente sempre Piauí.


Lorena A.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Certeza.

Era tipo assim como o cheiro de neném acabado de tomar banho. Não que você pudesse ser como uma criança, embora muitas vezes você comportou-se como tal e eu tive certeza de que você o era. E com esse tal comportamento comprometedor de maturidade, eu ficava anulada, retesada, com medo de que tivesse que te criar, te dar de mamar, e não pudesse nem mais sair de casa sem ter que deixar o leitinho quente esperando a hora da mamada.
Mas como nessa vida é tudo muito nada, tudo cai por terra e sempre vem pra me mostrar que as mudanças não existem por acaso, sejam elas de qualquer natureza, eu consegui perceber, depois de muito tempo que a validez dessa forma comportamental era apenas o reflexo completo do quanto a medida da sua indecisão era grande. O quanto o seu medo me queria longe, mas que era fraco diante do seu maior combate, o mais íntimo. A minha existência no seu coração.
Passei a vida toda sabendo que ele era enganoso, que quanto mais se ouvia, mais perdida e confusa eu deveria ficar. Posso até dizer que sim, que diversas vezes, por distração, por atraso, por acaso, impaciência, e até uma certa obstinação, eu era mesmo enganada, e enganada da forma mais sutil e cruel, enganada por mim mesma e pelo sentimento falso que eu insistia em muitas vezes guardar e alimentar dentro de mim.
Mas o que se dá depois que se descobre que um tal sentimento que você durante tantas noites, tantos dias se esforçou pra destruí-lo, pra tê-lo como ruim, como naquelas vezes você dizia o quando ele era inútil, o quanto ele te fazia mal e o quando você queria tê-lo longe de você?
E aí, eu volto pra historinha do engano e tudo volta a fazer sentido.
Vem uma coisa que mais me dava medo nessa vida, e que quanto mais eu fugia, mais ela se tornava aparente à mim.
Aqui ou lá, ela sempre esteve, imponente, me dizendo o tempo todo: "Aqui sempre vou está, do seu lado, te guiando. Mas não em temas. Sou sua aliada."
Só consegui entender essas palavras quando te conheci. Quando descobri a tua língua e consegui acompanhar o que você me dizia, quase que simultaneamente.
Nessa hora eu escutei um samba, e ela de fato tornou a ser quem sempre foi. A certeza do tal verdadeiro sentimento.
E aquela voz rouca que me jurava dor aos ouvidos, não fala mais, afoniou-se, e eu, só escuto os teus desígnos, aqueles que brilham nos teus olhos.
Tua beleza.





Lorena A.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Quem me viu, quem te vê.

Ah! Quem me viu, quem te vê!
Uma confusão que foi tomada pela segurança de teus braços.
UmA Divina Comédia ao acaso.
Que ao inferno e ao firmamento percorri
Sendo o caminho dentro do teu corpo
Dentro dos meus pensamentos.

Oh! Quanto eu estava errada!
Quanto errado de ti eu pensava!...
E de erros assim seguia atordoada,
Com a chave da solução na minha mão
E a venda nos olhos que a mim não permitia
A fechadura certa destravar!

Por fim, o fim é o mesmo começo.
O ébrio amor
A doce ternura.
Mas não o mesmo desejo ardiloso
Que à dor cedia e à mim escravizava
Mas que aos passoa da plenitude me faz seguir
Não de botas,
Tampouco de sandálias
Mas no descalço
Com sentindo pureza
Com sentindo sermos uno.




Lorena A.

Dream Rain.




Enquanto a ouvir o gorjeio da chuva que caía atrás do vidro de minha janela naquela tarde não muito fria - nem de meias eu precisava, pois meu corpo estava quente -, saudava-me num adormecido não muito profundo, a delícia de um sonho escaldante. Era como se fosse o ímpeto de meu pensamento. Projeções que me transmitiam sensações reais: tato, paladar, olfato.
Podia ouvir o seu sussurrado em meio à surdez da multidão. Estridentes músicas faziam fundo ao encontro de dois olhares. E desde o primeiro instante eles se amaram, até mesmo quando, visualmente, ainda não estavam um dentro do outro.

Como sois exuberante! Como soa bela em meus ouvidos todo o brilho do teu olhar! Resplandece a pureza de minh´alma, pois no fundo deles, estou eu, sendo eu, a que de concordado da distância desistiu; e em teus braços ardentes entregou-se. Sendo plena.



Lorena A.

sábado, 5 de abril de 2008

Brilho.



Porquanto o concordado calou-se. Fez-se instante e de repente aquietou-se. Os motivos não tão claros, transformaram-se em piedade extrema. Lamento? Não. Só penso que em mim não vai dar nada. Nunca deu em nada. Já fazia parte do passado e a triste menina cantou de novo aquela canção.
Pareceu como aquela vez que eu fui no banheiro e o sangue desceu. É, assim mesmo como a lágrima que escorreu por algum rosto. E eu não sei necessariamente se foi no meu. De algum lugar ela saiu, porque eu escutei o choro de longe... Meio abafado, mas indócil, dizendo com murmúrios claros que pra sempre era o fim.
Enfim.
Nem sempre no im imaginado tudo acaba-se. Muito pelo contrário. É tudo muito começo de tudo e com razão. A Fênix da minha presença está ai pra comemorar a altitude do ego. A elegância de um desprezo. A potencialidade da indiferença.

Sabia que é tão bom ser assim?
Que pena não cruzar contigo tamanhas descobertas absortas. É tão divertido!
As máscaras caem e eu continuo ilesa, porque a minha está com super-cola.

Teu dia está pra chegar, dizem as previsões nostradamísticas.
Entendeu alguma coisa? Eu, não; e, na verdade, eu não estou aqui pra entender coisa alguma, e na verdade, eu não estou aqui pra explicar, e na verdade eu não estou aqui pra te dizer o que fazer.

Bem sei eu o que fazer. Mas o esparadrapo na boca me fez calar. Me fez ressoar apenas o que o corpo não conseguiu esconder, o que estava nos olhos e não parou de brilhar.
Brilho inútil e delatador.
Tua virtude em mim é o caos, o fatídico dizer improvisado, cheio de prenúncios e sentimento.


E qual foi o bobo que falou em sentimento?!
Xii... não sei.

Talvez aquele que escreveu isso e sentiu.



Lorena A.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Objetos Circunstanciais.




A persistência insistente do querer,
A transeunte noção de vida.

Musgo de rosas
Que pena meu rio não desaguar no teu mar...

Pena de galinha,
De passarinho,
De galo estridente.

Cantando de manhãzinha assim:
Cheia de manha,
Cheiro de arte.

O arteiro arteou-lhe a poesia!

Salvei -me!
Daquele que me presunçou o domínio
Que não foi oculto em nenhum minuto
Mas presente no resguardo do medo.

Te disse que isso ainda ia dar naquilo
Quem mandou você brincar de amor
Comigo no ofurô...

Óh, furou!
Furou meu coração com a flecha do cupido
Que cuspiu no prato que morreu.

É, você morreu?
Em mim não...

Liberta que serás livre também!


Lorena A.


Quem ferve, sente.


Tilintando nesse frio



Creio na necessidade do amor



Na necessidade do ardor



Pra descongelar esses meus pés



E o meu músculo ôco.






Falo com murmúrio de serpente



Uma serpente de espinha quebrada



Onde sentiu pisar-lhe, então.






Toda esta dor vem do desejo



Do desejo que aviva meu coração



Que sucumbe à tua indiferença



Que desmancha



Mas que ferve meu sangue



E me mantêm viva.









Lorena A.

Levianidade



Leviatã sucumbido,
palavras torpes jogadas ao ar.
Liberdade indecente, doce fruto de um amar.
projetei meu mar de rosas, um mar de sonho,
de devaneidade.
Enquanto certos dias aconteciam
E a esperança, açucena maltratada,
machucada,
mal cabia em mim.

Agora receio que tudo o que possa vir do mundo.
Intolerantes julgamentos,
Acusações levianas.

Existe dentro de tudo isso uma chama viva,
Mas que não me acende como antes.
Terrivelmente pálida, soturna.

Porque não posso mais esquecer o passado
Porque não posso mais prever o futuro.



Lorena A.

scraps.


Trimera Casa de Letras.

Blogueiros do Piauí.