[... ]onde está o amor morto?
O amor em que lugar vai morrer?
Pelos celeiros remotos, ao pé das rosas que já estão mortas
soterradas sobre sete pés de cinza daquelas casas pobres
levadas por um incêndio na aldeia?
Oh, amor
da primeira luz da manhã,
do meio-dia tenaz e suas lanças,
amor como todo o céu
gota a gota
quando a noite atravessa pelo mundo
em seu total navio,
Oh, amor
de solidão adolescente,
Oh, grande violeta derramada
com aroma e sereno frescor cheio de estrelas
sobre o rosto:
aqueles beijos que subiam a pele,
enramando-se e mordendo
desde esses puros corpos estendidos
até a pedra azul dessa nave noturna.
Terusa de olhos grandes
para a Lua ou Sol de inverno,
quando as províncias recebem a dor e a traição
do esquecimento imenso e tu brilhas,
Terusa,
como cristal queimado do Topázio
como a queimadura do cravo
como o metal que estala no relâmpago
e para os lábios da noite transmigra.[...]
Pablo Neruda.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Amores I: Terusa.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
cabeça-tronco-sexo-coração.
Não penso em nada. Não consigo lembrar de nada. Nem da noite passada. Quieta. Estiquei-me um pouco mais, encontrei um outro corpo. Não sei exatamente aonde nesse corpo toquei. Aparentemente não se incomodou. Não se mexeu. Eu queria que se mexesse, uma forma de impor a minha presença acabada de desadormecer. Fiquei quieta alguns instantes.
Segundos. Na transição entre o sono e a realidade, senti um toque. Armadilha. Aquele corpo sentira o meu toque. Armadilha. E dava respostas. Armadilha. E pedia respostas. Armadilha. E eu sem saber o que fazer. Redenção.
Me contorci um pouco e consegui me esquivar, mas loucamente à vontade de responder aos estímulos alheios. Me contive. Mente racional, mente co[m]edida. Isso durou mais alguns segundos, pois o corpo já se postava atrás do meu, imitando minha posição. Encaixando-se.
Embora tensa e cheia de tecidos entre aqueles dois seres quentes, havia um certo prazer meu naquilo. Uns cheiros típicos humanos do acordar. Uma não necessidade de abrir os olhos e a imensa vontade de mantê-los fechados.
I´ve got all my life to leave. I´ve got all my love to give.
Então. Essa luta de poderes mentais e instintivos certamente teria um fim, e, naquela manhã deslumbrante de chuva que caía por trás da janela; eu mesma teria que ser a bandeira. Seja a branca, seja a negra.
Voavam junto com lençóis e travesseiros, pudores, medos e medidas. O que restava agora eram apenas reverberações não escritas e não ouvidas, parimentos de estímulos anteriores.
As mãos se entreçavam pelos corpos como se houvessem olhos em cada ponta dos vinte dedos das mãos. E ouvidos nos dos pés. Cada círculo de pele era minunciosamente percorrido por instintos, a ponto de não permitir que nenhum território conhecido antes ou não pudesse passar despercebido.
Era a força do amor que deixava que cada gota de existência fosse se esvaindo… se esvaindo e depois fosse trazida de volta por saudades sem um destinatário. Um momento na vida de qualquer trapo humano, qualquer um que se configure cabeça-tronco-sexo-coração.
Lorena A.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
sábado, 18 de abril de 2009
A rosa desfolhada.
Tento compor o nosso amor
Dentro da tua ausência
Toda a loucura, todo o martírio
De uma paixão imensa
Teu toca-discos, nosso retrato
Um tempo descuidado
Tudo pisado, tudo partido
Tudo no chão jogado
E em cada canto
Teu desencanto
Tua melancolia
Teu triste vulto desesperado
Ante o que eu te dizia
E logo o espanto e logo o insulto
O amor dilacerado
E logo o pranto ante a agonia
Do fato consumado
Silenciosa
Ficou a rosa
No chão despetalada
Que eu com meus dedos tentei a medo
Reconstruir do nada:
O teu perfume, teus doces pêlos
A tua pele amada
Tudo desfeito, tudo perdido
A rosa desfolhada
Vinicius de Moraes.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
The finest m[a]n.
What in your life doesn´t reach,
My feet look for stubbornness.
Me and my endless desire to smoke.
My detachment
disappearing ...
"After all this years of ploughing through the weeds
I have turned wise and grey
With every fibre in me
I have lived to see you grow to be
The finest m[a]n..."
by T.G.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Star way to heaven...
Àquele que me escreve
E que lê os meus textos,
Vos digo:
Que é de alma que dança
Que é de dente que sorri
Sendo mesmo um coração que mente
Que anda
Na direção contrária
Onde talvez queira me perder.
Sem falsas rimas ou
Pobres rimas!
Sem devanios fortuitos
Ou apenas o desejo de ouvir a tua voz.
O que vem é ritmado
Um galope mal-amado
Uma amizade não resolvida
Um dizer malogrado
Jardins sem flores,
Sem amassos...
É a tal ausência que me pertuba
Algo sobre não ter mais
Aquela mistura perfeita
Ou a mão nos cabelos cortados de três em três.
Não sei
Porque quem dizem são os astrólogos,
Não sou eu.
Que esse amor está nascido
Star way to heaven.
Lorena A.
Beyond...
Por conta disso e um monte de outras coisas emaranhadas em um nó que se chama eu, tive a chance de ver um mundo não obviamente claro, mas algo que estava além dele... o meu eterno beyond.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Murmúria.
Quero descansar os olhos em uma boca quente
E muda
Entre múltiplas mãos
Sentir os cabelos sendo amarrotados
Emaranhando sentimentos
Cheiros e cachos.
Viajando a cada doce instante improviso
Eu permito
Que o seu dia se torne menos cálido
E mais claro
Iguais aos meus
Quando é de retina minha que se faz a tua
Glória
Em alguma história
Que se fez contar.
Deixar que cada canto transpareça
E apeteça
O sentido do caos comum
Dentro de dois
Mundos ou corações.
Pra isso faço uma prece
Um lance qualquer
Mas as vestes que te diziam alguma coisa
Não existem mais
E entregaram o meu eu,
Inteira.
Lorena A.
Mi corazón.
Às vezes preciso que as lágrimas derramem um pouco de mim em você pra lembrar que ainda sou humana. Que ainda sou algo parecido com o que se diz ser gente, e que por isso sinto something about humans. Mas nada que traga nenhuma sordidez. Pois agora ficou tudo claro.
Lorena A.
scraps.
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