I
Caminho por ruas quase escuras, traçando uma imagem de noção da noite lua que me espera a seguir. Por entres essas ruas nuas, vielas saudosas e viris, me entrego à direção de sua beleza, à beleza desta cidade.
Sinto-me em casa. Apesar da distância exorbitante e dos contrastes quase constantes, consegui me desvencilhar de meus costumes inúteis aqui, então, nesta terra. Nem a temperatura me fez sentir muito a diferença. Na verdade é como se tudo encaixasse perfeitamente, como eu - mesmo que inconscientemente - o tivesse planejando anteriormente. Mas será feito disto um perfeito sonho longínquo? Ou apenas a uma projeção perfeita de desejos mais oriundos de vida e de bem-estar?
Não sei. Só sei que é a aqui que eu sempre quis estar.
Enxergo mais a diante belas palmeiras postas dentro de um ostentador bosque ladeado por imensos campos gramados, com cheiro e cores característicos.
Como poderia alguém tão bem projetar divinas paisagens apenas pare o meu bel prazer e deleite? Quem seria capaz de dar-me tanta beleza, assim, no instante em que eu cheguei neste lugar? Apenas alguém com tamanha obstinação em fazer-me feliz, poderia dispor-se a tal trabalho.
Aproximo-me do belo jardim central, cores, muitas cores são-me impostas. Tenho um profundo desejo de experimentar o aroma de cada flor, como se visualizasse cada uma delas a ponto de sentir todas ao mesmo tempo e como se tocasse uma por uma.
quero correr por entre este campo, embora algo me diz que não posso, que é proibido. É que as Flores podem parecer inofensivas à primeira vista, mas em seu caule carregam seu maior mecanismo de defesa. Seus espinhos.
Frustrei-me por não poder contemplar tal beleza, tocando-as, sentindo-as em seu mais profundo perfume.
Logo me desfiz desta idéia pois algo claramente notório chamou minha atenção.
Água... Como se eu pudesse sentir-te antes mesmo de te tocar. Penetra em meu corpo com toda suavidade presente no universo, onde nada mais do que teu leito representa a vida.
Um lago. Verde, cristalino, mágico.
Contemplei-o por alguns minutos. Calada. Absorta.
Vejo meu reflexo na água e percebo que sou apenas um ser humano. Insignificante diante de tanta perfeição.
Como pode alguém dar-me tanta plenitude e ao mesmo tempo roubar-me sua companhia, tornando-se sempre presente e ao mesmo tempo, sendo invisível pra mim?
O que queres de mim se não posso dividir contigo minhas emoções, meus sentimentos, que deveriam ser como tesouros à ti?
A pele do meu ombro sente o toque suave de uma outra pele que eu ainda não conhecia.
Você... Eu sabia que você viria. Eu exclamei e você surgiu. Não me interessa de onde, nem como. Só importa que está aqui. O resto? O resto não existe.
Tu vieste aqui para contemplar comigo tudo que há de mais belo neste mundo. Tudo que todos um dia sonharam em possuir. Nem riqueza, nem saber, mas sentimentos, que exprimem todo o pulsar do coração do mundo.
Mas tu não és humano. Não completamente.
Como podes me amar tanto, e sair de onde veio, um lugar melhor do que esse, para simplesmente me amar? Dar-me prazer infinitamente, ao meu corpo e à minha alma, sem sequer saber porquê?
Tu sabes porque eu é que não saberia dizer-te porquê.
Porque simplesmente sinto.
E deste sentir, não quero sair.
[Eles beijam-se.]
continua...
Lorena A.
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