terça-feira, 22 de abril de 2008

Terrivelmente sempre Piauí.

A cada qual estrela matutina que brilha agora de longe, naquelas manhãs nada frescas onde somente podia sentir a brisa durante suas primeiras horas. E quando menos se espera, já se vê em estado de cansaço do sentir, por ter muita luz do Sol desta terra penetrando em suas retinas. E em ver que aquele rio vaporiza o calor humano que essa terra tem pra dar.
Todo dia é todo dia muito igual. Até quando as nuvens carregadas da previsão do tempo são insistentes e se desmancham como as meninas faceiras neste lugar, o calor é altivo e me deixa mole. Mole e com vontade de ir embora. Mole de vontade de correr por entre essas ruas, intercortando assim feito a Lua quando briga com o Sol. E olha que o Sol aqui, mais do que em qualquer outro lugar, é o rei.
Seu reino foi fortificado na caatinga e aos filhos que deste legado nasceram, restou uma propagação da dinastia paterna: o amar esse fervor tão reluzente, como nas tardes quase que insuportáveis de outubro.

E quando o peregrino desceu as vielas do centro da cidade-capital desde estado quase em chamas, viu de longe que aqui havia uma peculiaridade única, pois tendo percorrido diversamente outras entranhas no país tupiniquim, sabia que ali eram onde moravam poetas, revolucionários e sim, muitos sertanejos semi-árido.
E sim, eu amo o sem-árido.
A falta de chuva, a busca da gota de água para o florescer da exuberância caatinga me apavora e me encanta. Me deixa com falta de sono e muda. Me remete à busca da água salgada, litorânea menor desse país.
Quando ponho os meus pés andantes aqui, então, vivo uma atmosfera de prelúdios, como se eu houvesse a minha vida toda estado completamente e não intermintentemente, como já faço a alguns anos. É torto, rebuscado, mas ao mesmo tempo transmite uma leveza quase que doentia, que busca na rede estendidas nas varandas de parnaíba um refúgio, um luto sobre tudo que é angustiante, e me deixa só, sozinha com meus deleites aventuranos.
Imaginações me dão as asas pra pensar naqueles homens erectus cavernísticos que estiveram aqui provando da docência deste meu antro-lugar. Admito que diante das grandes maravilhas de suas riquezas esculpidas em pedras pela chuva não existente o ano todo, desenhadas por mãos australopitecas em paredes de pedras arcaicas, em castelos erguidos no meio de um nada histórico. Eu me sinto tão enraizada, com a sensação de ter-me achado, pisado numa atmosfera lunar.
O calor aqui não me deixa só, assim como essas pessoas não transeuntes, que querem fazer com que eu me esqueça quem sou. Não. Absolutamente não, aqui eu sou mais que eu. Eu sou todas.
Com meu eterno gosto de cajuína na boca e cheiro de carne de bode de brasa. Aqui os campos maiores já me viram e eu serei sempre a bela que à tarde ardente se rende, esperando uma noite nada vazia, preenchida por canções que revelam esse meu amor enturmescido.
Dentro do meu sotaque abobadado, redondinho, que quase eu não percebo; que até já tentei um disfarce nada convincente; carrego- te, óh terra querida filha do Sol do Equador, em qualquer que seja o meu enlaço com qualquer outra terra. Terrivelmente sempre Piauí.


Lorena A.

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